sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Amizade Estelar


    Éramos amigos e nos tornamos estranhos um ao outro. Mas isso é realmente assim e não queremos calá-lo nem escondê-lo como se devêssemos ter vergonha. Exatamente como dois navios, cada um com seu objetivo e sua rota traçada: podemos nos cruzar ainda, talvez, e celebrar festas juntos, como já o fizemos - e, no entanto, esse bravos navios estavam tão tranquilos no mesmo porto, debaixo do mesmo sol, que se teria acreditado que tinham alcançado o objetivo, que tinham tido um único objetivo comum. Mas então a força todo-poderosa de nossa tarefa nos separou, empurrados para mares diferentes, sob outros sóis e talvez nunca mais nos voltemos a ver - talvez nos voltemos também a ver sem nos reconhecermos: tantos mares e sóis nos mudaram!
    Era preciso que nos tornássemos estranhos um ao outro, assim o queria a lei que nos transcende e é por isso que nos devemos respeito, para que a lembrança de nossa antiga amizade se torne mais sagrada que outrora! Existe provavelmente uma formidável curva invisível, uma rota estelar, onde nossos caminhos e nossos objetivos diferentes estejam incluídos como pequenas etapas; elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é demasiado curta e nossa vista demasiado fraca para que possamos ser mais que amigos no sentido dessa sublime possibilidade! - E assim queremos acreditar em nossa amizade nas estrelas, mesmo que tivéssemos de ser inimigos na terra.

Por Friedrich W. Nietzsche, em A Gaia Ciência

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