- Acho, senhora, que pela primeira vez na vida Artur foi golpeado por uma loucura que ele não pôde controlar.
- O amor?
Olhei-a e disse a mim mesmo que não estava apaixonado por ela, e que seu broche era uma talismã apanhado aleatoriamente. Disse a mim mesmo que ela era uma princesa e eu o filho de uma escrava.
- Sim, senhora.
- Você entende essa loucura?
Eu não tinha consciência de coisa alguma na sala, exceto Ceinwyn. A princesa Helled, o príncipe adormecido, Galahad, as tias, a harpista, nenhum deles existia para mim, assim como os tecidos pendurados nas paredes ou os suportes de bronze das lamparinas. Só tinha consciência dos olhos grandes e tristes de Ceinwyn e de meu comaração batendo.
- Entendo que é possível olhar nos olhos de alguém - ouvi-me dizendo - e de súbito saber que a vida será impossível sem eles. Saber que a voz da pessoa pode fazer seu coração falhar, e que a companhia dessa pessoa é tudo que sua felicidade pode desejar, e que a ausência dela deixará sua alma solitária, desolada e perdida.
Ela ficou quieta durante um tempo, apenas me olhando com uma expressão ligeiramente perplexa.
- Isso já lhe aconteceu, lorde Derfel? - perguntou enfim.
Hesitei. Sabia quais eram as palavras que minha alma queria dizer,e sabia as palavras que minha posição deveria me fazer dizer, mas então disse a mim mesmo que um guerreiro não florescia com a timidez, e deixei que a alma governasse a minha língua.
- Nunca aconteceu até este momento, senhora. - Foi necessário mais coragem para fazer essa declaração do que jamais necessitara para romper uma parede de escudos.
Ela imediatamente olhou para o outro lado e se sentou empertigada. Eu me xinguei por tê-la ofendido com minha estúpida falta de jeito. Permaneci recostado no divã, com o rosto vermelho e a alma doendo de embaraço enquanto Ceinwyn aplaudia a harpista jogando algumas moedas de prata no tapete ao lado do instrumento. Ela pediu que fosse tocada a canção de Thiannon.
- Pensei que você não estava escutando, Ceinwyn - provocou uma das tias.
- Estou, Tonwyn, estou, e estou sentindo grande prazer em tudo que ouço - disse Ceinwyn e de súbito me senti como um homem se sente quando uma parede de escudos desmorona. Só que não ousei confiar nas palavras. Queria; não ousava. O amor é loucura, balançando do êxtase para o desespero num segundo insano.
( As Crônicas de Artur - Bernard Cornwell )
Amo esse livro.O autor sabe escrever bem,foi muito legal voce ter transcrito esse trecho para seu blog,achei bem legal!
ResponderExcluirVá se fuder viada
ExcluirÉ uma bicha loca mesmo
ExcluirORDINÁÁÁRIA!
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